quarta-feira, 26 de maio de 2010


Biblioteca Cidadã: de livros abertos para você!
Programação Cultural Especial da Biblioteca Pública
Governador Menezes Pimentel comemora
118 anos da Padaria Espiritual

O aniversário dos Padeiros Adolfo Caminha (29 / 5) e Rodolfo Teófilo (6 / 5)
e o lançamento da 1ª reimpressão [revista e atualizada]
da 3ª edição [esgotada] de Dolentes, do padeiro Lívio Barreto, livro maior do Simbolismo cearense.

Programação Específica para os dias 26 e 27 de maio:

26.05.2010 (Quarta- Feira)

09h às 21h - Setor de Empréstimo: no empréstimo de um livro o usuário receberá uma poesia dos poetas da Padaria Espiritual.

09h às 21h - Setor de Microfilmagem: Exposição das primeiras páginas d’ O Pão.

09h às 21h - Setor de Obras Raras: Exposição das obras de escritores integrantes da Padaria Espiritual.

09 às 21h - Setor do Ceará: Exposição das obras de Rodolfo Teófilo e Adolfo Caminha

14h - Setor Infantil: Contação de História “A aventura do livro” com Nádia Aguiar

15h às 17h – Auditório do Dragão do Mar: Seminário Padaria Espiritual:


“Rodolfo Teófilo ou Adolfo Caminha” com os palestrantes Carlos Roberto Vazconcelos e Carlos Eduardo Bezerra.

27.05.2010 (Quinta- Feira)

09h às 21h - Setor de Empréstimo: no empréstimo de um livro o usuário receberá uma poesia dos poetas da Padaria Espiritual.

09h às 21h - Setor de Microfilmagem: Exposição das primeiras páginas d’ O Pão.

09h às 21h - Setor de Obras Raras: Exposição das obras de escritores integrantes da Padaria Espiritual.

09 às 21h - Setor do Ceará: Exposição das obras de Rodolfo Teófilo e Adolfo Caminha

14h - Setor Infantil: Contação de História “A aventura do livro” com Nádia Aguiar

15h às 17h – Auditório do Dragão do Mar: Seminário Padaria Espiritual:


“A Padaria Espiritual”, palestra de Sânzio de Azevedo, e, logo após, coffee break e lançamento da reimpressão da 3ª edição [revista e atualizada] de Dolentes, de Lívio Barreto (1870-1895) — nascido há 140 anos —, obra maior do Simbolismo Cearense, publicada, em primeira edição (1897), pela “Bibliotheca da Padaria Espiritual”.

Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel
Av. Presidente Castelo Branco, 255, Centro
Fone: (85) 3101.2548 (Raquel Lima)
Informações e sugestões: bibliotecacultural@secult.ce.gov.br
CLÁUDIO PEREIRA
 
A noite de Fortaleza procura em vão por Cláudio Pereira. Os amigos, desolados, sabem que aquele copo de rum com coca-cola não mais adornará as muitas mesas de bares de todos os nossos pontos cardeais. Uma curva má afamada e agourenta, entre João Pessoa e Recife, pensou que, em cortando os movimentos de seus membros inferiores, o aniquilaria. Médicos daqui e de fora, em cirurgias, quedaram-se impotentes diante do quadro real de paraplegia. Coitados desses médicos que vaticinaram vida breve ao então enfermo. Cláudio riu deles por 37 anos. Riu quando assumiu a Fundação de Cultura de Fortaleza, por três administrações diferentes, e agitou esta cidade como nenhuma entidade ou pessoa o fizera. Não foram livros não lidos que transmitiam essa cultura, mas o fermento que ele impôs nos múltiplos salões de Abril que regiam a arte com a ajuda do então curador João Jorge Melo, que lamentava a perda do ex-chefe que “tinha o caráter da dignidade, na força da resistência, realizados no sonho de viver”. Não foram discursos barrocos que enchem o vazio de seus autores que Cláudio levou para a periferia. Levou folguedos, músicas e livros acessíveis, palavras curtas de duração e plenas de integração. As batidas dos maracatus ressurgiram em seus passos sincopados por conta de um homem que não podia dar um passo sequer. E o menino Cláudio Roberto de Abreu Pereira, aos 14 anos, passou no concurso do Curso de Aprendizagem Bancária, do Banco do Nordeste. Fez-se bancário e jornalista. Depois, após a curva, veio a francesa Martine Kunz, essa professora-doutora de literatura apaixonada pelo Ceará que, de tão perspicaz, se casou com Cláudio, a sua síntese da terra amada e adotada. Esse casamento tinha a fragrância da benquerença permanente entre culturas díspares, mas complementares. Viraram o mundo por américas e Europa. O sobrinho-neto de Capistrano de Abreu foi também chamado para uma academia de letras. E aí navegou por pélagos novos da cultura, aqueles que sabem de suas limitações, mas têm a grandeza de aprender. Agora, estou voltando de seu velório e sepultamento. Não havia autoridades. O jazigo virou um vasto tapete de flores. Amigos de cãs gris das múltiplas faces e jornadas de Cláudio se sentiam patéticos. E, após o violino calar, Maria Luiza Fontenele falou com a alma dos que não se enlodaram na política e disse que “Cláudio marcou a história do Ceará e da administração popular da cidade por sua solidariedade, capacidade de romper barreiras e ter compromisso com o coletivo”. Após tudo, pedi à Mônica Barroso, sua velha amiga noturna, que o definisse. Ela, olhos lacrimejando, disse que “ele era a concretude da fraternidade, da igualdade e da alegria cercado por um exército de amigos”. Esses amigos estavam lá, mudos de vozes, desvalidos, cientes de que o insondável levara o Pereira. A relva em que pisavam no entardecer deixava ver a terra revolvida e tinham, mesmo a contragosto, a certeza da finitude, do pó.

(publicado no Jornal O Estado, em 14 de maio de 2010 e nos eletrônicos www.joaosoaresneto.com.br; www.maranguape.blog.br www.amigosdolivro.com.br e academiafortalezensedeletras.blogspot)

João Soares Neto,
escritor