domingo, 26 de setembro de 2010

Salmito Filho

Caro Presidente do Pacto por Fortaleza e

Presidente da Câmara Municipal de Fortaleza

Vereador Salmito Filho


O encontro acidental com V.Sa.,à noite passada, por ocasião da celebração do 40o. aniversário da "Sereia de Ouro", nos deu alento e alegria. A sua manifestação, antecipada, de que a Cultura, por proposta nossa, será incorporada como 6o. Eixo do Pacto por Fortaleza é motivo de comemoração para todos os que estão verdadeiramente comprometidos com o movimento cultural fortalezense em busca de melhores indicadores e de cidadania.

Em anexo, V.Sa. encontrará as razões pelas quais nos empenhamos, como voz isolada, no Auditório da Câmara Municipal de Fortaleza, no II Encontro do Pacto por Fortaleza, no dia 18 de setembro corrente, para que a Cultura fosse incluída como o 6o. eixo do Pacto por Fortaleza - a cidade que queremos até 2020.

Saiba V.Sa. que, em nome da Academia Fortalezense de Letras, o parabenizo por esse gesto.


Cordial e respeitosamente,
João Soares Neto
Presidente da Academia Fortalezense de Letras
 


Fortaleza, 22 de setembro de 2010

Ao
Ilmo. Sr.
Vereador João Salmito Filho
M.D.Presidente da Câmara Municipal de Fortaleza e do
Pacto por Fortaleza – A cidade que queremos até 2020


Senhor Presidente,


Não há nenhuma pretensão acadêmica ou ideológica para relativizar ou incensar a Cultura. Tampouco cabe defini-la ou conceituá-la, de forma estreita. Entretanto, vale dizer que para o educador popular brasileiro, Paulo Freire, a cultura seria o exercício de pensar o tempo, de pensar a técnica, de pensar o conhecimento enquanto se conhece, de pensar o porquê das coisas, o para quê, o como, o a favor de, de quem, o contra o que, o contra quem são exigências fundamentais de uma educação democrática voltada aos desafios do nosso tempo.

Para André Malraux, seria cultura a soma de todas de todas as formas de arte, de amor e pensamento, que através dos séculos capacitou o homem a ser mais livre. A premissa maior, no caso do Pacto por Fortaleza, seria a identificação das várias formas e manifestações de cultura (a tradicional, a popular, a fotografia, o grafismo, a arte visual, a literatura, o folclore, a música, o teatro, a dança, o cinema, os animadores e produtores culturais etc.) que vivem, produzem e trabalham de forma isolada, muitas vezes até antagônicas, sem sistematização, organização ou liderança bem definida, em Fortaleza através de uma forma criativa, que, certamente, brotaria então do 6º. Eixo especifico do Pacto, para torná-las instrumentos de crescimento pessoal, progresso cultural e até de emprego para cada um dos que a usam como subsistência ou de valor agregado à sua renda.


A cultura de uma cidade é sedimentada em funções da sua história, dos seus antepassados, dos valores sociais dos que a ela se incorporam, de suas angústias, alegrias, etnias, sonhos, crenças etc. A cultura, fora das universidades, faculdades e das academias de letras, em todas as suas manifestações, pode ser transformada de modo criativo, por exemplo, em cooperativas e organizações sociais que dariam oportunidade de trabalho a seus integrantes. E atuariam através de um calendário anual bem elaborado, centralizado e coordenado, que contemplasse todos os segmentos da Cultura, nas datas próprias e até fora de época.

A propósito de fora de época, basta citar, como exemplo, o Fortal, que há muitos anos se instalou, sem pedir licença, como um carnaval em fins de julho, em Fortaleza, trazendo para cá uma das muitas manifestações da cultura baiana, o “axé music”, de forma ordenada, empresarial e aqui conseguiram milhares de adeptos e rendimentos significativos a seus dirigentes.

O mero exemplo da inserção dessa recente - e discutível - cultura baiana em Fortaleza, serve para mostrar a necessidade de a cidade cuidar, sistematizar, tematizar, estabelecer datas de todas as suas manifestações eruditas ou populares como maracatus, reisados, forrós, São João, bumba-meu-boi, Iemanjá, carnaval, cinema, teatro, cantadores, trovadores e outros, com conceitos inovadores para torná-los organizados, sistêmicos, capazes e ciosos de que suas artes – ou cultura – possam ser objeto de apreciação pública, renda e entretenimento para milhares de turistas nacionais e estrangeiros que nos visitam, todos os meses, a cada ano.

A ousadia de pensar a Cultura como eixo de desenvolvimento social específico passa, naturalmente, pela inserção - e quiçá - mutação da Secretaria de Cultura do Município em animadora efetiva de todo esse complexo processo com indicadores culturais definidos. Em outra visão, a criação de um organismo novo, como uma Fundação, Instituto ou ONG que possa gerir com competência, independência financeira, eficácia e flexibilidade o seu planejamento, implantação e gestão. Essa gestão, certamente, pode prever identificação das formas reais/abstratas de cultura a serem prestigiadas e desenvolvidas, a elaboração de uma programação, a captação de recursos públicos e privados através de incentivos, renúncia fiscal, doações e de projetos que, se bem feitos, terão aceitação e interessados em sua implantação.

O que acima foi dito não exaure o amplo significado da palavra Cultura, tampouco elimina as funções já definidas nos eixos de 1. Segurança Pública e Cidadania; 2. Desenvolvimento Econômico e Social; 3. Qualidade de Vida; 4. Mobilidade Urbana; e 5. Resíduos Urbanos e Geração de Renda.

A Cultura, como 6º. Eixo, deverá receber das universidades públicas, privadas e das escolas de ensino superior e médio, contribuições significativas, especialmente quanto ao preparo intelectual dos trabalhadores e dirigentes que deverão lidar com públicos multilíngües e de nacionalidades de todos os continentes e obter rendas antes e à época da Copa das Confederações, em 2013, e da Copa do Mundo, em 2014, considerando que Fortaleza é uma das sub-sedes natural desses eventos.

Por outro lado, as academias de Letras e entidades similares poderiam, se consultadas, entre outras funções que lhes são específicas, cultuar a memória da cidade, dos seus patronos e de membros já falecidos, difundir a criação de bibliotecas, incentivar a criação de academias de letras estudantis, fomentar a realização de cursos anuais sobre escritores e intelectuais cearenses como José de Alencar, Farias Brito, Capistrano de Abreu, Rachel de Queiroz etc., bem como incentivar a bibliofilia, a difusão do livro e da leitura entre jovens, capacitando-os para a vida adulta com bagagem cultural que os torne aptos a definir seu futuro com maior senso crítico e oportunidade.

Apresento, por fim, estas observações pessoais como cearense, nascido em Fortaleza, amante de sua terra, conhecedor de suas manifestações culturais e do fato de ser, circunstancialmente, presidente da Academia Fortalezense de Letras, entidade caracterizada por ser inovadora e participativa. Por essas razões submeto-as à consideração do Presidente do Pacto, Vereador João Salmito Filho, e a todos os seus integrantes, sempre pensando em uma Fortaleza melhor, mais culta e, por tal razão, mais desenvolvida e igualitária.


Cordial e respeitosamente,
João Soares Neto
Presidente da Academia Fortalezense de Letras

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