quinta-feira, 8 de julho de 2010

Homenagem da Academia Fortalezense de Letras ao Theatro José de Alencar

PAIXAO CINQUENTONA- TJA

Tenho uma paixão cinquentona por ele. Era meninote e me punha a pé da Rua Major Facundo, desde a Praça do Carmo, para lá. Ia com a despreocupação dos enlevados pela oportunidade do encontro. Morava na cidade calma, com 270 mil pessoas, 15.000 “aparelhos telefônicos”, um grande hotel, o San Pedro, cinco emissoras de rádio, um novo e lindo cinema, o São Luiz. Admirava as vitrines da Aba Filme, na Rua Barão do Rio Branco, mostrando as fotos das meninas bonitas da cidade que tomavam lanches no Tonny’s. Era ainda o velho palco, o mesmo de 1910. Burle Marx não burilara a vegetação hoje ensombrando o lado incorporado da Rua General Sampaio, nem era dele o antigo prédio da escola, depois faculdade, olhando para a entrada da casa da Maria Luiza Rodrigues e o Edifício Lord. Sabia que ele me abriria, como espectador, de alguma forma, as frestas das artes, da interpretação, do canto, da música. Queria apurar sentidos, tinha pressa e curiosidade de saber. E foi lá que vi, entre outros, Paulo Autran, Tonia Carrerro, Procópio e Bibi Ferreira, Eva Todor e até o Zé Trindade, um fracasso, diga-se. Paquerava por lá, ouvindo moças da sociedade declamando poemas aprendidos sob a tutela da Sra. Violeta Modesto de Almeida, em festival promovido pelas “Damas de Jacarecanga”, em benefício dos pobres do Pirambu. Estava lá vendo o piano negro iluminando a magia de Jacques Klein, cearense do Aracati, já famoso concertista internacional, ao tocar sonatas de Beethoven. Em tempos de Semana Santa via o Gólgota, depois Paixão de Cristo. Foi nele que acompanhei o crescimento da Comédia Cearense, de muitos atores e o despertar do teatrólogo Eduardo Campos. . Anos depois, em festa de gala, subi os degraus que levam a seu palco, ao lado do meu pai, para receber orgulhoso o pergaminho da faculdade. Vi tantas peças, anos a fio.Como veem, não é amor recente, nascido depois que Bia Lessa comandou suas mudanças, os jardins surgiram e a frente cresceu, respondendo por todo o lado sul da Praça José de Alencar. É paixão antiga, dos que o conheceram sem climatização, vendo o porteiro “Muriçoca” e o Clóvis Matias, desde sempre. E não poderia deixar de louvar este 17 deste junho, sua data centenária, meu velho amigo, o Theatro José de Alencar.
João Soares Neto,
escritor
(publicado no jornal O Estado, Ce, 18.06.2010 e reproduzido nos eletrônicos: www.oestadoce.com.br; www.joaosoaresneto.com.br;

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